Quem chega de fora para a nossa ilha não encontra só belezas naturais. Soa-lhe aos ouvidos um jeito diferente de falar, que a princípio, confunde o “forasteiro” acostumado ao sotaque oficial ou ao da sua terra.
O sotaque oficial, esta coisa “limpa” de contextos e histórias, pode fazer bem para locutores de telejornais. De tanto valorizar o sotaque impessoal aliado a um português raso e econômico, moldados para consumo diário de nossos dias apressados, vemos sumir no horizonte, a beleza e o encantamento de nosso português herdado dos açorianos. Se não cuidamos, juntos, lá se vão nossa originalidade, nosso sotaque, nossas expressões que, muitas vezes, fazem a confusão dos visitantes. Claro que a gente sofre “bulling”. Jeitos jocosos, olhares de soslaio desprezíveis, risinhos disfarçados achando que a gente tem pouca cultura. Nem ligamos.
Os falares açorianos vieram junto com os seis mil açorianos que desembarcaram no sul do Brasil até o ano de 1756 com o objetivo de ocupar o sul do país, colônia portuguesa, estabelecendo assim, um limite para os espanhóis. Vieram em casais e famílias, implantando aqui a sua agricultura e a pesca coletiva em sistema de mútua ajuda. Os primeiros a chegarem à ilha, em janeiro de 1748, viajaram noventa dias. Depois mais quarenta dias de “quarentena”, só no balanço do mar olhando aquela imensidão. Quem não se apaixonaria? Trouxeram junto seus saberes, seu modo de ver o mundo, sua arquitetura, casas juntinhas para se defender dos ataques, religiosidade, lendas, folclore, artesanato, música, gastronomia e literatura popular. Desembarcaram com toda esta bagagem. Era o dia 22 de fevereiro. (Será que era carnaval?)
Aqui ficaram. Fizeram história, moldaram nossa cidade e viram ela crescer. Até demais! Dois séculos e meio depois estamos nós aqui lutando contra o “gabarito” da globalização cultural. Não é andar pra trás, é defender uma identidade como muitas cidades europeias estão fazendo: cuidando de suas originalidades.
Então, as “pessoas de fora” podem chegar aqui para ver ou morar na nossa terra, mas quando ouvirem: te aprecata, lambeta, bruaca, cá comigo (para expressar uma reflexão própria), ficar incanço, muvida, dindinha, afamilhado, ganjento, tá que é um siri na lata, timbora caco! e outras mais, antes de qualquer “brincadeirinha” com o nosso falar, lembrem-se: tem muita coisa, muita história atrás dos falares açorianos. É um luxo falar um português que aportou aqui em 1748! Então, vamos combinar assim: qualquer palavra/frase desconhecida, tipo SE NÃO AJUDA, NÃO ISTROVA, não intica com a gente porque ”minha pátria é minha língua.”
Isolete Dozol
As fotos do ano de 2020 encontram-se na página do
facebook do Bloco ONODI.
Esse ano o Onodi celebra 22 anos de alegria no bairro, saindo desde o Chagas, às 17 h de domingo, até o Largo da Igrejinha. O tema do enredo são os falares açorianos, trazendo as palavras de uso cotidiano do povo da ilha. O Programa campo de Peixe recebeu Isolete Dozol para falar do carnaval desse ano.